Home Brasília Pazuello diz que fica no cargo enquanto Bolsonaro busca ‘reorganizar’ Ministério da Saúde

Pazuello diz que fica no cargo enquanto Bolsonaro busca ‘reorganizar’ Ministério da Saúde

Pazuello diz que fica no cargo enquanto Bolsonaro busca ‘reorganizar’ Ministério da Saúde

Ministro da Saúde afirmou que não pedirá demissão, que não está doente e admitiu que presidente procura alguém para substituí-lo.

O ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, afirmou nesta segunda-feira (15) durante entrevista coletiva que permanecerá no Ministério da Saúde enquanto o presidente Jair Bolsonaro faz “tratativa de reorganizar” a pasta.

Ele admitiu que Bolsonaro busca alguém para substituí-lo. Quando isso acontecer, será a terceira troca no comando do ministério desde o início da pandemia de Covid-19. “É continuidade, não há rompimento”, afirmou o ministro.

Pazuello disse que não pedirá demissão. “Não é da minha característica. Não vou pedir para ir embora”, declarou. De acordo com o ministro, se haverá substituição, cabe ao presidente decidir.

“Não estou doente. Não pedi para sair”, declarou Pazuello. Segundo ele, o cargo é do presidente da República e a possibilidade de deixar o posto existe desde que assumiu.

Pazuello disse que não pedirá demissão porque isso não é “característica” dele.

“Eu não vou pedir para ir embora. Não é da minha característica, eu não vou pedir para ir embora. Nem eu nem o Élcio [Franco, secretário-executivo] nem nenhum de nós que está aqui. Isso não é um jogo, não é uma brincadeira: ‘Quero ir embora’. Isso é sério, é o país, é a pandemia, é o Ministério da Saúde. Não pode ser levado da forma como está sendo colocado. Eu não pedi para ir embora nem vou pedir. Estamos trabalhando, e é um trabalho em conjunto com o governo. Se haverá uma substituição ou não, cabe ao presidente da República e não a mim”, afirmou.

O ministro afirmou que se reuniu com Bolsonaro e com Ludhmila Hajjar, médica que não aceitou substituí-lo no ministério em razão de falta de “convergência técnica” com o presidente.

“Nós estamos num momento em que é preciso colocar também: ‘Ministro Pazuello vai ser substituído?’ Um dia, sim. Pode ser curto, médio ou longo prazo. O presidente está nessa tratativa de reorganizar o ministério. Enquanto isso não for definido, a vida segue normal. Eu não estou doente. Eu não pedi para sair e nenhum de nós, no nosso Executivo, está com problema algum. Nós estamos trabalhando focados na missão. Quando o presidente tomar a sua decisão, faremos uma transição correta, como manda o figurino”, declarou Pazuello.

Ao final da entrevista coletiva, Pazuello disse ter “muito orgulho” de estar na função de ministro da Saúde e ressalvou que a entrevista “não é uma palavra de despedida”.

“Dá muito orgulho estarmos agora à frente dessa pasta, cumprindo essa missão. Não me sinto, em hipótese alguma, pressionado por nenhuma notícia, nenhuma posição que venha de mídia errada, ‘fake news’, nada disso. Isso não é o problema. O problema é a pandemia, são os óbitos, os contaminados. O problema é apoiar todos os brasileiros. Essa é a missão. Isso que é difícil. O resto é fácil”, concluiu o ministro.

No Senado, há um movimento de parlamentares para a instalação de uma comissão parlamentar de inquérito (CPI) a fim de apurar eventuais irregularidades na condução da pandemia, especialmente no Amazonas. Entre outras ações, o colegiado investigaria se houve omissão por parte de Pazuello durante o período à frente da pasta.

Terceira troca na pandemia

Em pouco mais de um ano, já passaram pela pasta os médicos Luiz Henrique Mandetta – que assumiu o posto no início do governo Jair Bolsonaro – e Nelson Teich, que não chegou a passar nem um mês como ministro.

General do Exército, Pazuello foi nomeado secretário-executivo do Ministério da Saúde por Nelson Teich em abril de 2020, segundo cargo mais importante na gestão da pasta. Com a saída do “chefe”, Pazuello passou três meses como ministro interino. Só foi efetivado no cargo em agosto.

Desde então, o militar foi responsável por comandar as negociações do governo brasileiro para a compra de vacinas contra a Covid-19. Pazuello é investigado em inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF) por suposta omissão no socorro ao colapso do sistema de saúde no Amazonas.

No período à frente da pasta, Pazuello se envolveu ainda em outras polêmicas, como a recomendação reiterada de remédios sem eficácia para um suposto “tratamento precoce” da Covid-19; a má-gestão dos kits de testagem e a demora em celebrar contratos com os laboratórios produtores de vacina em todo o mundo.

Investigado no STF

A Polícia Federal abriu em janeiro um inquérito para investigar a conduta de Pazuello na crise sanitária do Amazonas. A autorização foi dada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Ricardo Lewandowski.

No colapso do estado, em janeiro, pacientes morreram pela falta de oxigênio medicinal nos hospitais e muitos tiveram de ser transferidos para receber atendimento médico em outros estados. Pazuello já foi ouvido pela PF e o inquérito tramita sob sigilo.

A gestão do ministro também é investigada pelo Tribunal de Contas da União (TCU), que apontou ilegalidade no uso de recursos do Sistema Único de Saúde (SUS) para o fornecimento de cloroquina no tratamento de pacientes com Covid-19. O medicamento não tem efeito contra o vírus.

Em despacho, o ministro Benjamin Zymler afirmou que o fornecimento do medicamento para tratamento não tem comprovação científica e que o remédio — utilizado no tratamento da malária — só poderia ser fornecido pelo SUS para uso contra a Covid-19 se houvesse autorização da Anvisa ou de autoridades sanitárias estrangeiras, o que não ocorreu.

Compra desautorizada

 

Em outubro, Pazuello foi desautorizado publicamente pelo presidente Jair Bolsonaro. O presidente mandou cancelar o protocolo de intenções de compra de 46 milhões de doses da vacina CoronaVac, anunciado no dia anterior por Pazuello em uma reunião com governadores.

No dia seguinte, Pazuello recebeu o presidente no hotel onde mora em Brasília, onde se recuperava da Covid-19. Em um vídeo em que aparece sorrindo ao lado de Bolsonaro, o ministro comentou o cancelamento do protocolo: “É simples assim: um manda e o outro obedece”, disse.

Segundo informou o blog de Valdo Cruz, Bolsonaro sabia da negociação para a compra da vacina, mas voltou atrás após sofrer pressão de apoiadores em redes sociais. O episódio provocou mal-estar entre militares, já que Pazuello é um general da ativa do Exército, de acordo com o blog de Andréia Sadi.

Homem da logística

Eduardo Pazuello é general de divisão do Exército Brasileiro desde 2018 e chegou ao governo com a missão de organizar e operacionalizar a logística do Ministério da Saúde no combate à pandemia de Covid-19.

Antes de atuar na Saúde, Pazuello foi coordenador operacional da Força-Tarefa Logística Humanitária Operação Acolhida, responsável pelos trabalhos relacionados aos cidadãos venezuelanos que chegaram ao Brasil por Roraima, fugindo na crise no país vizinho.

O general é ex-comandante da Base de Apoio Logístico do Exército e também trabalhou na coordenação logística das tropas do Exército na Olimpíada de 2016, no Rio de Janeiro.

Pazuello nasceu no Rio de Janeiro e formou-se na Academia Militar das Agulhas Negras em 1984, mesma instituição de formação do presidente Jair Bolsonaro. Na academia, fez cursos de operações na selva, paraquedista e aperfeiçoamento de oficiais.