Os líderes da União Europeia vão concordar em uma cúpula nesta semana para eliminar gradualmente a dependência da UE das importações de gás, petróleo e carvão russos, mostrou um esboço de comunicado, marcando um ponto de virada em sua política em relação a Moscou, motivada por A invasão russa da Ucrânia.
Os líderes da UE se reunirão em Versalhes na quinta e sexta-feira para discutir o aumento de sua capacidade conjunta de defesa e a tentativa da Ucrânia de se tornar membro do bloco de 27 países.
Queimados pela experiência de escassez de suprimentos em microchips e produtos farmacêuticos durante a pandemia de COVID-19, os líderes também discutirão como tornar a UE mais estrategicamente independente de fornecedores globais nesses setores e alimentos.
“Concordamos em eliminar gradualmente nossa dependência das importações russas de gás, petróleo e carvão”, disse o rascunho do comunicado dos líderes, visto pela Reuters.
A tarefa será difícil, no entanto, porque a UE compra da Rússia 45% de seu gás importado, cerca de um terço de seu petróleo e quase metade de seu carvão. Isso torna o bloco vulnerável caso a Rússia decida retaliar as políticas da UE restringindo as exportações.
A decisão marca um ponto de virada porque apenas no ano passado a Alemanha ainda estava avançando para colocar o gasoduto russo Nord Stream 2 em operação, enquanto Itália, Áustria ou Hungria – entre os estados da UE mais dependentes do fornecimento de energia russo – não tinham pressa em buscar alternativas.
Mas a invasão russa da Ucrânia mudou tudo, disseram os líderes.
“A guerra de agressão da Rússia constitui uma mudança tectônica na história europeia”, disse o esboço do comunicado dos líderes.
“Confrontados com a crescente instabilidade, competição estratégica e ameaças à segurança, decidimos assumir mais responsabilidade por nossa segurança e dar mais passos decisivos para construir nossa soberania europeia, reduzindo nossas dependências e projetando um novo modelo de crescimento e investimento para 2030”, afirmou.
GÁS NATURAL LIQUEFEITO, RENOVÁVEIS
Os líderes disseram que a UE diversificará seus suprimentos e rotas de energia por meio do uso de gás natural liquefeito (GNL) e do desenvolvimento de biogás e hidrogênio.
A Europa também acelerará o desenvolvimento de energias renováveis e a produção de seus principais componentes. Além disso, os países da UE conectarão as redes europeias de gás e eletricidade para compartilhar melhor os recursos, sincronizar totalmente as redes elétricas e reforçar o planejamento de contingência para a segurança do fornecimento.
Em outras áreas estratégicas, como a produção de microchips, necessários para máquinas e eletrônicos mais avançados, o esboço mostrava que os líderes estabeleceriam uma meta de mais que dobrar a participação de mercado da Europa em sua produção para 20% até 2030.
A UE também procurará desenvolver seu setor farmacêutico para se tornar líder em biomedicina e investir em tecnologias digitais como Inteligência Artificial, computação em nuvem e implantação de redes móveis 5G.
A alimentação também estará em foco. “Melhoraremos nossa segurança alimentar reduzindo nossa dependência de produtos e insumos agrícolas importados”, disse o comunicado dos líderes do esboço.
Após anos de dependência dos Estados Unidos como o último recurso de segurança para a Europa, uma política que atraiu críticas do ex-presidente dos EUA, Donald Trump, a Europa agora gastará muito mais em defesa, acrescentou o esboço.
“Concordamos em aumentar substancialmente os gastos com defesa, com uma parcela significativa de investimento, focando nas deficiências estratégicas identificadas e com capacidades de defesa desenvolvidas de forma colaborativa dentro da União Europeia”, disse o esboço.