Na contramão do mundo, o Brasil somou mais de 20% das mortes pela covid-19 entre todos os países na última semana e vê a taxa de expansão de novos infectados aumentar num ritmo duas vezes superior à média mundial.
Enquanto isso, a chegada de um quarto ministro da Saúde no Brasil em um ano de pandemia foi classificada como “caótica” por parte da cúpula dos organismos internacionais, gerando desconfiança e deixando governos e entidades como a OMS com um “pé atrás” em relação ao que poderá ser a política sanitária brasileira nos próximos meses.
Dados divulgados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) nesta quarta-feira revelam que o registro de mortes no planeta caiu em 3% na semana que terminou no dia 14 de março, somando 58 mil óbitos. No Brasil, porém, a curva vai no sentido contrário e, com 12,3 mil mortos no período avaliado, o país é líder mundial. O aumento foi de 24% entre os dias 7 e 14 de março.
Os dados sequer incluem os recordes registrados nos últimos dias. Mas, no que se refere às novas contaminações, o Brasil também se consolidou como líder. Se no mundo os casos aumentaram em 10% e voltaram a assustar a OMS, com 3 milhões em uma semana, o país registrou uma aceleração duas vezes superior. No total, foram 494 mil novos contaminados no Brasil, um aumento de 20% em comparação à semana anterior.
No centro das atenções, o Brasil também passou a ser acompanhado de perto por conta da troca no Ministério da Saúde. A notícia em si da queda de um militar – Eduardo Pazuello – e da escolha de um médico – Marcelo Queiroga – foi tida como um “passo positivo”, inclusive por sua atitude de sair em defesa da ciência.
Mas a gestão da mudança, o tom de “dar continuidade” aos projetos fracassados e as exigências que foram feitas ao novo chefe da pasta da Saúde foram recebidas como um “sinal” da hesitação do governo federal em promover uma mudança radical na forma de lidar com a crise. Também existem dúvidas se o novo ministro terá de fato autonomia para modificar políticas que, comprovadamente, não deram resultados. “Continuidade não pode ser o caminho”, insistiu um dos líderes na resposta contra a covid-19 na OMS.
Um dos pontos considerados como mais problemáticos na escolha do novo ministro seria seu compromisso de que não irá recorrer ou defender medidas de isolamento social, de confinamento, lockdown ou toque de recolher.
Na OMS, o recado é claro: essas medidas funcionam e permitiram que países desafogassem seus sistemas públicos de saúde. Na prática, de acordo com a entidade, a medida salva vidas.